Desde o início da minha carreira acadêmica tenho um interesse no estudo da neurobiologia associada à adaptações comportamentais decorrentes da exposição crônica às drogas de abuso, mais especificadamente ao álcool. Gostaria de dividir aqui um pouco dos aspectos gerais relacionados aos efeitos e à dependência de álcool. Seu uso abusivo é um problema médico e social tão antigo quanto a história da civilização humana. Existe uma passagem notória da Bíblia que se refere ao semita Noé: “Noé, que era agricultor, plantou uma vinha. Tendo bebido vinho, embriagou-se, e apareceu nu no meio de sua tenda” (Bíblia Sagrada, Gênesis, capítulo 9, versículos 20-21). É provável que as primeiras doses de álcool consumidas pelo ser humano tenham sido provenientes de fermentações acidentais. A representação do uso de álcool foi corporificada por Dionísio, Deus do êxtase e do entusiasmo, sendo o seu uso abusivo uma prática muito comum naquela época. É inevitável, portanto, perceber que a espécie humana sempre buscou maneiras de alterar a própria consciência (Huxley, 1954). Continuar lendo →