Fosfoetanolamina: uma história mal contada

Talvez você tenha notado recentemente nos meios de comunicação e nas redes sociais certo barulho causado por uma “nova cura” do câncer: a fosfoetanolamina (FOSFO). Pra quem não foi atingido por esta onda vou fazer um breve resumo da história. No dia 17 de agosto, pacientes com câncer entraram na justiça para que a USP libere a distribuição de um suposto “remédio” para o combate da doença. O composto era produzido e distribuido dentro do Instituto de Química da USP-São Carlos (IQ-USP) e há relatos de melhoras dos sintomas e até cura. Em 2014, o IQ-USP passou uma portaria que regulava a produção e distribuição de qualquer substância usada com finalidade terapêutica produzida dentro de suas dependências. O documento esclarece que apenas aquelas substâncias que apresentarem toda a documentação emitida por órgãos públicos de saúde poderão seguir sendo produzidos e distribuídos pelo Instituto. A FOSFO, por não ter esses documentos, deixou de ser distribuída. O que se seguiu foi uma onda de brigas judiciais e protestos que agora ganham força pela cobertura da mídia.13042012drogas_remedios008-1115723 Continuar lendo

Prisma Entrevista: Caçadores de Neuromitos

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O que você sabe sobre o seu cérebro é verdade?

Para nos aprofundarmos nessa questão, confira a nossa entrevista com a Dra. Larissa Zeggio, uma das autoras do Livro “Caçadores de Neuromitos” lançado em Junho de 2015:

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Legenda: Organizado pela Profa. Roberta Ekuni, Dra. Larissa Zeggio e Prof. Dr. Orlando Francisco Amodeo Bueno

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Revisão por pares: um mal necessário? (Parte 2)

Clique aqui para ler a parte 1.

“É isso mesmo? Revisão por pares é isso ai?”

Quando perguntadas a respeito de suas opiniões sobre a revisão por pares e o seu papel na Ciência, tanto pessoas inseridas no mundo acadêmico quanto o público em geral vêm este procedimento como algo benéfico. Muitos identificam a revisão por pares como um processo avaliativo da ciência sobre si mesma, capaz de separar o joio do trigo, garantindo a integridade geral deste sistema. Tal afirmação é verdade, em parte. Apesar de parecer bonito no papel, o peer review que é feito hoje em dia comete muitos erros e foge dos pressupostos teóricos que toma por base, dando motivo para a desconfiança. E quais erros e motivos são esses? Continuar lendo

Revisão por pares: um mal necessário? (Parte 1)

Um dos argumentos mais utilizados pelos defensores da Ciência e dos métodos que ela emprega para compreender a natureza é justamente a maneira pela qual ela realiza tal feito. O Método Científico – que não se limita somente à observação de um fenômeno e a formulação de uma hipótese que o explique, mas também pelo teste destas explicações – é o cerne de tal empreitada. Contudo, para aqueles que se encontram inseridos dentro do meio acadêmico e envolvidos com uma pesquisa científica, o trabalho não termina quando uma hipótese é rejeitada ou não. O “último” passo de uma pesquisa é a publicação de seus achados em uma revista científica. Tal passo envolve uma etapa que por muitos é encarada como o mecanismo de controle de qualidade da ciência e por outros como a âncora que atrasa o seu avanço: a revisão por pares (peer review).

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Creditos James Yang

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Você é uma Kardashian?

No dia em que um módulo da sonda Rosetta conseguiu pousar em um cometa, um retumbante e inédito feito para a humanidade, o assunto mais comentado da internet foi um outro tipo de abundante passo para a nossa sociedade: Uma foto de Kim Kardashian West na revista Paper mostrando os seus também retumbantes, embora não tão inéditos, atributos:

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Você já viu a parte debaixo da imagem em algum outro lugar que eu sei, não precisamos colocá-la aqui.

As subcelebridades são conhecidas por ganhar fama sem ter muita contribuição para a humanidade pelas conquistas artísticas, políticas ou humanitárias, quanto mais pelas descobertas científicas. Já os cientistas são conhecidos por… Na verdade, os cientistas não são muito conhecidos. É comum lermos histórias de muitos cientistas que morreram sem o reconhecimento público.

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Grandes dados, grandes erros

Naturalmente, nós humanos acreditamos que para que uma coisa seja comprovada como verdadeira, ela deve se repetir mais de uma vez, rejeitando-se assim a influência do acaso. Apesar dos nossos vieses psicológicos nessa questão, fica claro que quanto mais evidências temos de algo, mais fidedigno isso é. Baseando-se nessa premissa, estudos científicos e empresariais são conduzidos com o objetivo de obter o maior número de dados para que seja alcançada a resposta mais correta, ou pelo menos a mais próxima do correto. Com o advento de tecnologias capazes de realizar múltiplas observações e quantificações, muitos profissionais acabam se deparando com um volume de dados exorbitante em suas mãos. Esse mar de dados, algumas vezes indecifráveis, agora é carinhosamente chamado de Big Data.

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Explicando o título da sua tese para um leigo

Você só estuda? O que você está estudando? Ou o que você faz no trabalho?

Você certamente já teve que responder a essas perguntas várias vezes ao longo deste ano. E digo mais, com a proximidade das festas de fim de ano, vêm as reuniões de família, os churrascos com pessoal das antigas e tantos outros reencontros com as pessoas que faz tempo que você não vê, e com isso, é muito provável que você ainda vai respondê-las mais algumas vezes este ano.

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A terapia da meditação – Entrevista com a Dra. Sarah Bowen

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Como vimos no post anterior desta série, um dos grandes problemas enfrentados por aqueles indivíduos que lutam contra algum tipo de dependência de drogas é a recaída. Na maioria dos casos esse processo tem início após algum episódio de fissura, ou seja, uma vontade muito grande de consumir a droga. Diversas terapias já estão sendo usadas para o tratamento desse problema baseando-se em conceitos psicológicos e fisiológicos da dependência, no entanto uma nova abordagem está surgindo apoiando-se em conceitos da meditação budista, o mindfulness. Continuar lendo

Os Miseráveis

Quando recebi a notícia de que o espetáculo “Os Miseráveis” (Les Miserábles), adaptação musical do romance de Victor Hugo, estaria ganhando uma versão cinematográfica, logo quis escrever um texto com essa referência por gostar muito do livro e do musical. O filme apenas será lançado em 2013 no Brasil, mas a expectativa é grande, apesar de termos de ouvir Russell Crowe cantando…

As primeiras páginas do romance “Os Miseráveis” contam com a personagem Jean Valjean pedindo de albergue em albergue por um quarto e uma refeição, só para ser escorraçado em todas as suas tentativas, por ser um recém-liberto – em condicional – de sua pena de prisão de dezenove anos, cinco por roubar um pão para tentar alimentar a sua família e mais quatorze por tentativas recorrentes de fuga. Para mim, na academia, a comparação mais óbvia dessa jornada arredia e incerta, com diversas dúvidas sobre o futuro – com muitas possibilidades, boas e ruins – seria a dos “miseráveis” da hierarquia acadêmica, os estagiários da ciência, aquele que seria o primeiro degrau do futuro cientista: o estudante de Iniciação Científica.

Cosette acadêmica Les miserables

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A “cristalização” de conceitos e o erro de Lamarck

Durante toda nossa vida de aprendizado, nos deparamos com determinadas situações que tem o objetivo de explicar determinados conceitos.  Exemplos clássicos referem-se aqueles exemplos, que geralmente melhor representam um determinado conceito dentro de uma teoria. Livros didáticos sejam eles de física, química ou biologia, são recheados de tais exemplos.

Os conceitos que são apresentados a fim de explicar teorias, principalmente aqueles mais antigos, podem não ser atualizados ao longo do tempo e com isso corremos o risco de perder a perspectiva histórica e os achados de investigações posteriores na área de estudo.

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