Sobre Marcus Vinicius Alves

Psicólogo soteropolitano praticante daquela ciência moleque, de várzea. Aquela ciência com amor à camisa.

A morte e os profissionais da saúde

Cena do filme

Cena do filme “O Sétimo Selo”, de Ingmar Bergman

Rituais fúnebres sempre estiveram presentes em diversas culturas e a medida que cada sociedade apresentava aspectos culturais que promoviam disparidade entre tais rituais, estes eram indicativos de um espectro geral das crenças do grupo. Tais crenças seriam representativas de toda a esfera de concepções dessa cultura quando expandida. À sua maneira, cada cultura escrevia a história da relação do ser humano com a morte e assim criava uma estratégia a mais de enfrentamento. Sendo assim, para falar sobre a morte é preciso antes pensar na vida. Continuar lendo

Você é uma Kardashian?

No dia em que um módulo da sonda Rosetta conseguiu pousar em um cometa, um retumbante e inédito feito para a humanidade, o assunto mais comentado da internet foi um outro tipo de abundante passo para a nossa sociedade: Uma foto de Kim Kardashian West na revista Paper mostrando os seus também retumbantes, embora não tão inéditos, atributos:

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Você já viu a parte debaixo da imagem em algum outro lugar que eu sei, não precisamos colocá-la aqui.

As subcelebridades são conhecidas por ganhar fama sem ter muita contribuição para a humanidade pelas conquistas artísticas, políticas ou humanitárias, quanto mais pelas descobertas científicas. Já os cientistas são conhecidos por… Na verdade, os cientistas não são muito conhecidos. É comum lermos histórias de muitos cientistas que morreram sem o reconhecimento público.

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A volta do Macaco Azul: Lutando contra a procrastinação!

0002 29_04_2013 Cada galho com seu macaco Tudo sobre nada

Já falamos de procrastinação em dois textos aqui no Prisma (clique aqui e aqui para ler), e neste último meu, havia prometido que voltaria a falar do assunto. Cumprirei a minha palavra hoje, um ano (e alguma coisa) depois…

No episódio anterior dessa nossa história, simbolizamos a procrastinação com a imagem do macaco azul de Aluízio Azevedo. Pois é, o macaco azul pode ser enganado. E uma das características dele é deixar-nos emocionalmente combalidos.

A maioria das pessoas quando em fase de escrita acabam por ficar irritadiços, desesperados e sem esperança. Pergunte para qualquer um que esteja nesta fase, mas pergunte de longe.
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Quem tem medo de Estatística?

estatistico

 

Em qualquer curso que não seja específico da área de Exatas, as pessoas se surpreendem ao verificar que, na grade curricular, é possível notar que será preciso cursar pelo menos uma ou duas disciplinas de estatística. Isso mesmo! Você não leu errado, não. É estatística mesmo. E já sabemos o que você está pensando: “Poxa vida! Escolhi Psicologia/Biologia/Medicina/Sociologia e até aqui a matemática e as disciplinas de exatas me seguem! Aí não vale!” É fato: dez em cada quinze graduandos odeiam a simples ideia de ter que lidar com números e fórmulas novamente. Mesmo assim, não se preocupe, a boa notícia é que a história não precisa ser assim. Continuar lendo

Os Corvos e a sua Guerra dos Tronos

Antes de tudo, leitor, clique aqui e deixe a música criar o clima para o texto.

Corvos são animais que para a mitologia e literatura se encontram em um espaço limítrofe entre o mundo espiritual e o mundo real, das religiões pagãs até “O Corvo” de Allan Poe, eles são vistos em geral como detentores do conhecimento místico da morte e, em algumas culturas,  como seres que carregam consigo os maus presságios pelo seu hábito necrófago e a sua cor negra. No seriado Game of Thrones (inspirado na série de livros “As Crônicas de Gelo e Fogo”) a imagem do corvo surge em alguns momentos com a sua habitual ligação mística (“o corvo de três olhos”) e em outros como o grupo de “soldados” servindo para sempre na solidão da muralha, protegendo o continente, um exército formado pela escória do mundo… E esse cara:

Sem título

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Sobre consciência e inteligência artificial. (Parte 2)

PigmaliaoGalateaJean-Léon Gerome

Na primeira parte desse post falamos sobre a consciência e a possibilidade da criação desta por meios artificiais, por mãos humanas. Embora com outra roupagem, há inúmeras criações artísticas que surgiram deste questionamento. Desde a mitologia grega, com a história de Galatéia, construída no mármore por Pigmaleão, que terminou por receber de Afrodite o toque da vida, até o golem Frankenstein da escritora Mary Shelley, cujo nome se tornou referência do receio que algumas pessoas têm de que toda criação de vida, inteligência e consciência artificial possa se voltar contra o seu criador em um afã violento pela liberdade cerceada.

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Sobre consciência e inteligência artificial. (Parte 1)

mindMesmo com o avanço dos estudos sobre a consciência, este ainda é um tópico peculiar para as ciências cognitivas. Esse lugar de destaque parece não advir só da complexidade inerente ao assunto, mas também da possibilidade de que, ao descobrir mais sobre ela, se encontre um ponto de destaque para o conhecimento mais aprofundado das nossas propriedades mentais.

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A categorização nossa de cada dia.

O mundo em que vivemos exige da nossa cognição o uso de sistemas de aprendizagem complementares. E em contextos mais complexos, há a sobrecarga destes sistemas devido à quantidade de informações que se precisa processar.

Imagine essa situação:
[Uma pessoa ao sair de sua casa em direção ao trabalho se depara com a porta da casa vizinha aberta, onde uma senhora negra e muito idosa faz a faxina. Imediatamente a pessoa pode supor que aquela é a nova empregada de seu vizinho, uma senhora que provavelmente mora muito longe e se sustenta com dificuldade em um trabalho árduo. No trajeto para o seu trabalho o semáforo se ilumina em vermelho e ao parar o carro a pessoa é abordada por um senhor com o rosto surrado, quase que instantaneamente há a aplicação de rótulos verbais e o senhor é identificado como um mendigo, pedinte, esfomeado e, consequentemente, se imagina a vida terrível que ele vive, mas também que é preciso tomar cuidado com o que ele pode fazer naquela situação. Fecha-se a janela do carro. Ao chegar em seu escritório se depara com uma jovem muito bonita, loira e de corpo escultural andando por ali e logo supõe se tratar da nova secretária do chefe. E durante o resto do seu dia esta pessoa caminha por diversos locais, como restaurantes, lojas, salas e vai encontrando e categorizando pessoas, criando expectativas sobre como essas podem e devem agir.]
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Falácias de mesa de bar (2)

Certa vez, durante um banquete na Grécia Antiga, um belo rapaz chamado Alcebíades – talvez o mais belo entre os atenienses – após tomar muito do vinho azedo que serviam naqueles tempos se irritou com a presença de Sócrates na mesa e, em um rompante passional, começou a atacá-lo colérica e apaixonadamente. Acusando Sócrates de ter uma retórica apaixonante como a de sátiros tocando flauta na floresta, como que se enfeitiçasse os corações ingênuos, acusando Sócrates de o perseguir em todas as suas noites de sono… Os seus sonhos não mais seriam os mesmos até o dia da sua morte, pois desejava Sócrates e este não se importava com ele. Sócrates era um homem fantástico e cruel e por isso não deveria ser idolatrado, mas sim excluído das rodas dos mortais para sempre!

Como estamos vendo, utilizando de uma falácia clássica – o ad hominem – Alcebíades acusou Sócrates de não possuir certos valores morais que, na Grécia Antiga, basicamente queria dizer “a vontade de possuí-lo” mesmo. Triste e apaixonado, Alcebíades aparentemente não leu o meu texto anterior sobre falácias na mesa de bar (clique aqui para entender um pouco mais dessa bagunça) e utilizou uma falácia contra Sócrates, o chato dos chatos, o maior dos retóricos. Pois Sócrates respondeu à altura de toda a sua sapiência disfarçada de ignorância:

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“Só sei que nada sei, gente.”

Mistura perigosa: Álcool e gente. É, meus amigos, se nem na Grécia Antiga havia como escapar dos barracos e falácias, imagine hoje… Após esse prólogo é hora de mais um texto sobre as falácias na mesa do bar!

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